O vírus
da imunodeficiência humana (VIH),
também conhecido por HIV (sigla eminglês para human immunodeficiency virus),
é da família dos retrovírus e o
responsável pela SIDA (AIDS).
Esta designação contém pelo menos duas sub-categorias de vírus, o HIV-1 e o HIV-2. No grupo HIV-1 existe uma grande
variedade de subtipos designados de -A a -J. Esses dois grupos tem diferenças
consideráveis, sendo o HIV-2 mais comum na África Subsaariana e bem incomum em
todo o resto do mundo.
Portugal é o país da Europa com maior número
de casos de HIV-2, provavelmente pelas relações que mantém com diversos países
africanos. É estimado que 45% dos
portadores de HIV em Lisboa tenham o vírus HIV-2.
Em 2008, a OMS estimou que existam 33,4 milhões de
infectados, sendo 15,7 milhões mulheres e 2,1 milhões jovens abaixo de 15 anos.
O número de novos infectados neste ano (2009) foi de 2,6 milhões. O número de
mortes de pessoas com AIDS é estimado em 1,8 milhões.
Já dentro do corpo, o vírus infecta
principalmente uma importante célula do sistema imunológico, designada como linfócito T CD4+
(T4).
De uma forma geral, o HIV é um retrovírus que
ataca o sistema imunológico causando eventualmente a síndrome da
imunodeficiência adquirida em
casos não tratados.
HISTÓRIA
O HIV-1 foi descoberto e identificado como
causador da AIDS por Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi da França e Odete Ferreira de Portugal em 1983 no Instituto Pasteur na França. O HIV-2 foi descoberto por Odete Ferreira de Portugal em Lisboa em 1985.
Sua descoberta envolveu uma grande polêmica,
pois cerca de um ano após Montagnier anunciar a descoberta do vírus, chamando-o
de LAV (vírus associado à linfoadenopatia),Robert Gallo publicou
a descoberta e o isolamento do HTLV-3. Posteriormente se descobriu que o vírus
de Gallo era geneticamente idêntico ao de Montagnier, e que possivelmente uma
amostra enviada pelo francês havia contaminado a cultura de Gallo.
O último boletim da UNAIDS projeta cerca de 33,2 milhões de
pessoas que vivem com o HIV em todo o mundo no final de 2007, a maioria na África. Segundo a UNAIDS (2008), dois terços dos infectados
estão na África sub-saariana.
Nos Estados Unidos, infectar voluntariamente outro indivíduo
configura transmissão criminosa do HIV. Acontece o mesmo em muitos países
ocidentais, inclusive no Brasil.
O vírus do HIV adaptou-se à espécie humana a
partir de símios SIV.
Nas pessoas com HIV, o vírus pode ser
encontrado no sangue, no esperma, nas secreções vaginais e no leite materno.
Assim, uma pessoa pode adquirir o HIV por
meio de relações sexuais, sem proteção - camisinha -, com parceiros portadores
do vírus, transfusões com sangue contaminado e injeções com seringas e agulhas
contaminadas. Mulheres grávidas portadoras de HIV podem transmitir o vírus para
o feto através da placenta, durante o parto ou até mesmo por meio da
amamentação. A transmissão de doenças de mãe para filho é chamada de transmissão vertical.
Na África subsaariana,
principalmente na África do Sul, por muitos anos houve um movimento contrário à
existência do HIV, por parte de membros do governo, aliada a inúmeras
superstições e mitos, apesar das comprovações científicas. Por isso em alguns
locais dessa região a quantidade de indivíduos infectados é de mais de 35%.
REPRODUÇÃO
EM LABORATÓRIO DO GENOMA VIRAL
Em 2010, pesquisadores da Universidades
Federais de Pernambuco e
do Rio
de Janeiro, da equipa do professor do
Departamento de Genética da UFPE, Sergio Crovella, divulgaram trabalho de
investigação dirigido à obtenção de uma vacina terapêutica de vírus
recombinante, tendo reproduzido artificialmente o genoma do vírus.
PRÉMIO
NOBEL DA MEDICINA 2008 NO PARLAMENTO EUROPEU
Laureado com o Prémio Nobel
da Medicina em 2008 por ter descoberto o vírus da imunodeficiência humana (VIH)
em 1983, Luc Montagnier esteve no Parlamento Europeu, no dia 1 de Abril de 2009, no âmbito da Conferência
dedicada ao "Futuro da investigação biomédica no séc. XXI". Em entrevista
exclusiva ao sítio oficial do Parlamento Europeu LA UNE, o médico francês
referiu que "o principal objectivo [da investigação científica do VIH]
deve ser a criação de uma vacina terapêutica, não nos devemos centrar na vacina
preventiva".
TRANSMISSÃO
O vírus é mais frequentemente transmitido
pelo contacto sexual (característica que faz da AIDS uma doença ou infecção sexualmente
transmissível), pelo sangue (inclusive em transfusões), durante o
parto (mãe para o filho), durante a gravidez ou no aleitamento.
No Brasil, em 2002, a cobertura de exames de
HIV em grávidas foi estimada em 52%, sendo pior no Nordeste com 24% e melhor no
Sul com 72% de cobertura. Somente 27% seguiram todas as recomendações do
Ministério da Saúde. Ter maior escolaridade e morar em cidades com mais de 500
mil habitantes foram os melhores preditores de grávidas que fazem todos os
exames. 9 Ainda
relativo ao Brasil, o Ministério da Saúde oferece gratuitamente o leite
substituto em alguns postos de saúde, hospitais e farmácias cadastrados.
No caso de transmissão pelo sangue, é mais
provável por seringas compartilhadas
entre usuários de drogas ou caso seja feita reutilização.
Algumas pessoas consideram a possibilidade de
transmissão pelo beijo, porém é altamente improvável, pois o vírus é danificado
por 10 substâncias diferentes presentes na saliva.
Além disso existem poucas células CD4 na boca. Ter boa higiene oral e tomar os
medicamentos diminui as possibilidades ainda mais. Mesmo em pessoas com AIDS
(carga viral no sangue por volta de 100.000/ml) é difícil encontrar HIV na
saliva.
CARACTERÍSTICAS
No Brasil, nos últimos anos a transmissão do
HIV, que antes era mais frequente entre os homens homossexuais, passou a afetar
todas as classes sociais, etnias, lugares e orientações sexuais. Quatro
processos podem ser identificados na sua difusão atual11 :
Heterossexualização (aumento entre os
heterossexuais, que já são a maioria);
Feminização (aumento entre mulheres, cerca de
1/3 dos casos no Brasil);
Interiorização (aumento nas cidades do
interior);
Pauperização (aumento nas populações mais
pobres).
FATORES
DE RISCO
No contacto sexual, pode ser qualquer tipo de
sexo, como oral, vaginal e anal. A transmissão do HIV durante o contacto sexual
pode ser facilitada por vários factores, incluindo:
Penetração sem camisinha;
Ser o receptor (passivo) na relação sexual;
Presença concomitante de doenças sexualmente
transmissíveis, especialmente aquelas que levam ao aparecimento de feridas
genitais;
Lesões genitais durante a relação sexual;
Elevado número de parceiros sexuais e
relações desprotegidas;
Carga viral elevada da pessoa infectada;
Hemorróida avançada;
Uso de drogas injetáveis;
Transtornos psicológicos associados a descaso
com a própria saúde;
Falta de conhecimento.
Outro dado observado é o aumento na proporção
de pessoas com escolaridade mais baixa e em adultos com mais de 30 anos.
FATORES
DE PROTEÇÃO
Alguns dos fatores que diminuem a probabilidade da
transmissão são:
Usar sempre preservativo masculino ou preservativo feminino corretamente;
Usar lubrificante (pois resulta em menos
microferimentos);
Baixa quantidade de vírus no portador;
Tomar os medicamentos antirretrovirais corretamente;
Circuncisão masculina. (porém há estudos com
resultados controversos)
Em um estudo longitudinal de 20 meses de duração
com casais heterossexuais sorodiferentes, de 124 casais que usaram sempre
camisinha nenhum contaminou seu parceiro, enquanto 12 dos 121 que usavam
camisinha inconsistentemente foram infectados.
Também são raros os casos de transmissão por
ferimentos, pois apesar de haver relatos esporádicos, o vírus não resiste muito
tempo fora do corpo e é necessário que haja contato com o sangue tanto por
parte do portador como do receptor. É pouco provável que o sangue contaminado
em contato com uma pele saudável (sem ferimentos) contamine outra pessoa,
apesar de ser possível, pois existem muitos fatores envolvidos.
O uso da terapia antirretroviral diminui em 96% o
risco de transmissão do HIV. Por isso os remédios podem ser receitados aos
parceiros não infectados de soropositivos.
No caso de profissionais de saúde, é possível tomar
os medicamentos antirretrovirais para prevenir a infecção por 28 dias caso o
contágio tenha ocorrido em menos de 72h. O risco estimado de contaminação por
contato com uma agulha contaminada é de 0,3%.
No Brasil, pacientes que tenham experienciado
situação com alto nível de contágio (como sexo anal sem camisinha com pessoa de
sorologia desconhecida) há menos de 72h podem solicitar ao médico que prescreva
antirretrovirais para prevenir a contaminação.
SINAIS E SINTOMAS
Assim que se adquire o HIV, o sistema
imunológico reage na tentativa de eliminar o vírus. Cerca de 15 a 60 dias
depois, pode surgir um conjunto de sinais e sintomas semelhantes ao estado gripal,
o que é conhecido como síndrome da soroconversão aguda.
A infecção aguda pelo HIV é uma síndrome inespecífica,
que não é facilmente percebida devido à sua semelhança com a infecção por
outros agentes virais como a mononucleose, gripe,
até mesmo dengue ou muitas outras infecções virais. Mas
os sintomas mais comuns da infecção aguda são:
Febre persistente
Perda de peso rápida
Diarréia que
dure mais de uma semana
Dores musculares
Tosse seca prolongada
Lesões roxas ou brancas na pele ou na boca
Além disso, muitos desenvolvem linfadenopatia. Faringite, mialgia e muitos
outros sintomas também ocorrem.
Em geral esta fase é auto-limitada e não há
sequelas. Por ser muito semelhante a outras viroses, dificilmente os pacientes
procuram atendimento médico e raramente há suspeita da contaminação pelo HIV, a
não ser que o paciente relate ocorrência de sexo desprotegido ou
compartilhamento de seringas, por exemplo. Entretanto, na fase aguda inicial,
mesmo sem tratamento adequado, os sintomas são temporários.
PROGRESSÃO
Os pacientes poderão ficar assintomáticos por
um período variável entre 3 e 20 anos e alguns nunca desenvolverão doença
relacionada ao HIV. Este fato relaciona-se com a quantidade e qualidade dos
receptores de superfície dos linfócitos e outras células do sistema imune. Tais
receptores (os principais são o CD4, CCR5 e CXCR4) funcionam como fechaduras
que permitem a entrada do vírus no interior das células: quanto maior a
quantidade e afinidade dos receptores com o vírus,maior será a sua penetração
nas células, maior a replicação viral e maior velocidade de progressão para
doença.
Foi criada então uma classificação não muito
rígida:
Rápido progressor (adoece em até 3 anos)
Médio progressor (adoece entre 4 e 7 anos)
Longo progressor (entre 8 e mais anos)
Estas características são determinadas por
fatores genéticos e outros fatores desconhecidos. Não obstante, os hábitos e a
qualidade de vida podem ser determinantes da velocidade de progressão da
doença, tendo em conta o impacto de fatores como tabagismo, alcoolismo, toxicodependência, estresse, alimentação irregular e outros.
A velocidade de progressão está relacionada
com a queda da contagem de linfócitos T CD4 no sangue (a contagem normal dos linfócitos
varia de 1.000 a 2.500 células/ml de sangue) e com a contagem da carga viral do
HIV (a contagem da carga viral é considerada alta acima de 100.000 cópias/ml de
sangue. A escala para carga viral é habitualmente logarítmica. Com o tratamento
adequado, a carga viral tende a ficar abaixo de 50 cópias/ml.
O HIV destrói os linfócitos CD4 gradativamente
(em média a contagem declina 80-100 células/ml/ano). A contagem relaciona-se
inversamente com a gravidade da doença. Para fins de tratamento com as drogas
antirretrovirais consideram-se os seguintes parâmetros:
Abaixo de 200 células/ml: Muito vulnerável, tratar
imediatamente;
Entre 200 e 350 células/ml: Vulnerável, deve
ser iniciado o tratamento para evitar riscos;
Entre 350 e 500 células/ml: Pouco vulnerável,
pode começar a critério médico;
Acima de 500: Saudável, não precisa começar o
tratamento.
Porém todos os pacientes com doença oportunista relacionada ao HIV devem ser tratados
mesmo com CD4 alto.
DOENÇAS
OPORTUNISTAS
Os sinais e sintomas das doenças relacionadas ao
HIV são extremamente variáveis. Uma característica importante é a contagem de
linfócitos T CD4. As doenças oportunistas mais comuns que podem sinalizar a
contaminação por HIV são:
Pneumocistose recorrente
Câncer cervical
Infecções bacterianas severas
Geralmente apenas pessoas que desconhecem que estão
com o vírus adoecem e só descobrem que estão contaminadas por causa das
coinfecções. Tomar os antirretrovirais retorna a imunidade a níveis saudáveis,
prevenindo essas e outras doenças. Quando uma dessas doenças é diagnosticadas
alguns médicos recomendam que sejam feitos testes para verificar a presença do
HIV. 21 Apesar de correlacionadas ao HIV, é importante
lembrar que é possível que essas doenças estejam presentes mesmo sem o vírus do
HIV, geralmente relacionado a outro fator que leve a uma queda grave da
imunidade.
PREVENÇÃO
Com o surgimento das Terapias
Antirretrovirais (TAR), foram desenvolvidas estratégias de prevenção primária
(antes da infecção), secundária (após a doença) e terciária (após agravamento).
Entretanto a epidemia continua a contaminar anualmente 2,7 milhões de pessoas,
segundo dados da OMS de 2008.
Em 2006, o médico da OMS Brian G. William
defendeu a circuncisão masculina na África como método eficaz de prevenção (60%
de eficácia). O mesmo médico em
fevereiro de 2010 defendeu em San Diego o uso de antirretrovirais com baixos
efeitos colaterais por pessoas sem o vírus como meio de frear a epidemia.
Segundo a Organização Não-Governamental sem fins lucrativos IAVI
(International AIDS vaccine iniciative) o HIV infecta quase 7.400 pessoas por
dia e uma vacina com 50% de eficácia distribuída para 30% da população mundial
poderia proteger 5.6 milhões de indivíduos. Em conjunto com 40 laboratórios, o
grupo trabalha na vacina desde 1996. Até agora nenhuma vacina teve mais de 33%
de eficácia [9].
Em um estudo recente que incluiu o Brasil, o
uso de um comprimido de antirretroviral (tenofovir) por homens saudáveis preveniu 44% de novas
infecções, chegando a 72% nos pacientes que tomaram o remédio em mais de 90%
dos dias.
Mães soropositivas que tomem o
antirretroviral durante a gravidez tem apenas de 1 a 2% de chance de transmitir
o HIV ao filho. Muitas grávidas ainda tem medo de fazer o teste e/ou se recusam
por não se identificarem como possíveis portadoras mesmo sem saber a sorologia
do parceiro. Por isso, campanhas de conscientização estão sendo feitas em
vários hospitais públicos no Brasil desde 2000.
APÓS
SITUAÇÃO DE RISCO
Caso um dos parceiros seja diagnosticado como
HIV positivo e o outro como HIV negativo, é possível, a critério médico,
prescrever os antirretrovirais para o parceiro soronegativo também, para
prevenir a infecção.
De forma semelhante, em vários países
inclusive no Brasil, é possível solicitar antirretrovirais gratuitamente a um
médico até 72h após uma situação de risco (como sexo anal sem camisinha). Esse
tratamento preventivo dura aproximadamente um mês e é eficaz na prevenção de
HIV em mais de 80% dos casos. É uma opção do médico prescrever ou não, mas o
paciente pode procurar outros médicos em caso de recusa. Em uma pesquisa em uma
parada gay nos Estados Unidos 7% dos entrevistados já tomaram antirretrovirais
preventivamente. (Mais informações no site da sociedade brasileira de
infectologia)
O
GENOMA VIRAL
O HIV tem muitos genes que codificam proteínas estruturais.
Genes retrovírus gerais
gag. proteínas derivadas do gag sintetizam o capsídeo viral em forma de cone (p24, i.e. proteína de 24
Quilo[[dáltons, CA) a proteína do núcleocapsídeo (p17, NC) e um proteína da
matriz (MA).
pol. O gene pol
codifica as proteínas enzimaticamente ativas do vírus. A mais importante é a
chamada transcriptase reversa(RT)
que realiza a única transcrição reversa do RNA viral
em uma cadeia dupla de DNA. O último é integrado ao genoma do
hospedeiro, ou seja, em um cromossomo de uma célula infectada de uma pessoa HIV-positiva pela integrase (IN) pol-codificadora. Além disso, a pol
codifica uma protease viral específica (PR). Essa enzima cliva o gag e as
proteínas derivadas de gag e pol em pedaços funcionais.
env. env, abreviação para "envelope". As
proteínas derivadas de env são uma membrana de superfície (gp120) e uma
proteína transmembrana (gp41). Elas estão localizadas na parte externa da
partícula viral, formando um envelope viral o qual permite que o vírus se anexe e
incorpore às células-alvo para então iniciar o ciclo infeccioso. A gp possui
uma estrutura semelhante a uma maçaneta.
GENES ESPECÍFICOS DO HIV
tat. Um porção da estrutura do RNA do HIV é uma
estrutura como um grampo de cabelo que inicialmente impede que umatranscrição completa ocorra. Parte do RNA é transcrita
(ie. antes da parte do grampo) e codifica a proteína tat. A tat liga-se à
CdK9/CycT e a fosforila, ajudando a alterar sua forma e a eliminar o efeito da
estrutura de grampo do RNA. Isso por si só aumenta a taxa de transcrição,
fornecendo um ciclo de retroalimentação positiva.
Isto permite que o HIV tenha uma resposta explosiva, uma vez que uma grande
quantidade de tat é produzida.
rev. A rev permite que fragmentos do mRNA do
HIV que contém uma unidade de resposta a rev (RRE) sejam exportados donúcleo ao citoplasma. Na ausência da rev, a maquinaria de splicing do RNA no núcleo rapidamente cliva o RNA. Na
presença da rev, o RNA é exportado do núcleo antes de ser clivado, num
mecanismo de retroalimentação positiva.
O HIV E A RESPOSTA IMUNE
A infecção começa com uma fase de viremia
aguda, seguida por um período de latência clínica. Primeiramente, acreditava-se
ser uma verdadeira latência viral como resultado da inserção do HIV no genoma
hospedeiro em um estado não produtivo, aguardando condições favoráveis à
transcrição. Houve, subsequentemente, um grande trabalho de pesquisa sobre os
fatores de transcrição do HIV. Infelizmente, até por volta de 1993, a
sensibilidade dos ensaios virais era precária. O uso das técnicas de
amplificação por PCR a partir de 1993 permitiu detectar
contagens virais de até 50 cópias/ml.
Foram detectadas células dendríticas
infectadas com vírions, mostrando que a tão chamada fase de latência não
implica inatividade do vírus.
CENTROS
DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO NO BRASIL
No Brasil, o Ministério da Saúde oferece gratuitamente exames para
detectar a resposta do organismo ao vírus do HIV. Podem ser feitos em Centros
de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em alguns hospitais.
Primeiro é efectuado um teste ELISA.
Caso o resultado seja positivo ou haja dúvidas, é feito o Western-blot, um exame mais eficaz na detecção mas que também
é mais caro e complexo. É importante lembrar que, como ambos os exames detectam
a resposta imunológica ao vírus, é necessário esperar de 30 a 90 dias depois do
contágio para o exame ser mais preciso (ver: janela imunológica).
O resultado é sigiloso, sendo geralmente
entregue pessoalmente ao paciente que pode ser seguido em consulta de
aconselhamento por profissionais de saúde, de forma a alertar sobre os riscos,
encaminhar para outros serviços de saúde e a serviços de acompanhamento
psicossocial.
Além do HIV, são feitos simultaneamente
exames para sífilis, Hepatite B e Hepatite C pois
elas também são doenças sexualmente
transmissíveis transmissíveis
pelo sangue e que podem levar a danos permanentes e morte se não tratadas
corretamente.
É possível encontrar o CTA mais próximo da
sua moradia no site do Fique Sabendo:
TESTE
RÁPIDO
Desde 2010 a Fiocruz produz
o kit de teste rápido usando os fluídos da boca para identificar resposta do
organismo ao HIV entre 20 a 30 minutos. O teste tradicional demora cerca de um
mês e um grande número de pacientes não retorna para buscar o resultado. Esse
novo teste Confirmatório Imunoblot Rápido, possui uma margem mínima de erro e
custa cinco vezes menos ao governo federal que o modelo rápido anterior. Já
está disponível em alguns hospitais públicos desde 2011. Uma das principais
vantagens é não precisar expor mãe grávida e feto aos antirretrovirais
preventivamente enquanto o resultado não fica pronto como podia ser necessário
no tradicional.
Algumas cidades em
Pernambuco, Bahia e Rondônia fizeram um projeto para aplicar o teste rápido em
centenas de pessoas após o carnaval.
TRATAMENTO
Hoje, os pacientes têm acesso a um regime
complexo de drogas que atacam o HIV em vários estágios do seu ciclo de vida. Elas são conhecidas como medicamentos antirretrovirais e incluem:
Inibidores
Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (NRTI): Danificam o RNA do vírus
indiretamente ao atuar na enzima transcriptase reversa, impedindo-o de se
reproduzir. Exemplos: Zidovudina, Abacavir, Didanosina, Estavudina, Lamivudina e Tenofovir.
Inibidores Não
Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (NNRTI): Bloqueiam diretamente a ação
da enzima e a multiplicação do vírus. Exemplos: Efavirenz,Nevirapina e Etravirina.
Inibidores da Protease (IP): Atuam bloqueando a protease, uma enzima usada pelo vírus para produção de novas
cópias de células infectadas. Exemplos: Amprenavir,Atazanavir, Darunavir, Indinavir, Lopinavir, Nelfinavir, Ritonavir e Saquinavir.
Inibidores de fusão:
Bloqueiam os receptores que permitiriam a entrada do vírus na célula. Exemplo: Enfuvirtida.
Inibidores da
Integrase: bloqueiam a atividade da enzima integrase,
responsável pela inserção do DNA do HIV ao DNA humano (código genético da
célula). Assim, inibe a replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas
células. Exemplo: Raltegravir.
Muitas questões importantes estão envolvidos
no estabelecimento de um curso de tratamento para o HIV como a tolerância ao medicamento
e efeitos colaterais apresentados. Efeitos colaterais comuns incluem náusea e diarréia, dano e falência do fígado eicterícia. Qualquer tratamento requer testes regulares de
sangue para avaliar a eficácia através da contagem de linfócitos T
CD4+ no sangue total e a carga viral) no plasma, além de averiguar efeitos colaterais.
Alterações de medicamentos são feitas para que o paciente tenha um mínimo de
efeitos colaterais, ou mesmo que não apresente nenhum, o que é frequente após o
primeiro mês de tratamento.
Não existe nenhum caso conhecido no qual a
terapia antiviral tenha eliminado a infecção pelo HIV, porém com o tratamento é
possível ter uma vida perfeitamente saudável e assintomática por mais de três
décadas (não se sabe por quanto tempo o tratamento continua eficaz pois a TARV
só existe há desde 94).
HIV E
ESTUPRO
Em caso de estupro, como a violência do ato
aumenta a probabilidade de contágio, um médico pode prescrever antirretrovirais
para diminuir a probabilidade de o vírus conseguir entrar no CD4 e se
reproduzir. Geralmente são receitados junto com pílulas do dia seguinte. O
mesmo procedimento pode ser prescritos para profissionais que tiveram contato
com o sangue de pacientes contaminados, por exemplo através de cirurgia ou de
agulha contaminada. Se o TARV for tomado em menos de 72h, é eficaz na prevenção
da infecção por HIV.
HIV E
SAÚDE MENTAL
Pacientes com transtornos psicológicos são
mais vulneráveis a serem infectados com HIV. Portadores
de HIV tem altos índices dedepressão maior, alcoolismo e
tendência ao suicídio.32 Em
outro estudo também identificaram correlação com transtornos de ansiedade,
transtornos sexuais e abuso de substâncias.
Um antirretroviral ITRNN muito usado no mundo, o Efavirenz, também tem como possível efeito colateral
transtornos neuropsiquiátricos crônicos, principalmente na forma de transtornos
de ansiedade e de sono.
A revelação do diagnóstico de HIV positivo é
considerado um evento muito estressante e com impacto em várias áreas da vida
do portador, de modo semelhante a outras doenças que ameaçam a vida. A maioria dos portadores reagiu ao
diagnóstico como um evento traumatizante, porém conseguiram lidar com a
situação sem muitos problemas psicossociais. Os portadores que desenvolveram
transtornos psicológicos beneficiaram de psicoterapia de longo prazo,
principalmente da terapia interpessoal em conjunto com remédios psiquiátricos. A Terapia
cognitivo-comportamental também
demonstrou ser uma intervenção benéfica e aumentar a adesão ao tratamento.
Mesmo com o desenvolvimento da terapia
antirretroviral altamente eficaz (HAART) a não-adesão ao tratamento ainda é
frequente. É recomendado que os profissionais de saúde trabalhem em equipe,
desenvolvendo programas específicos para lidar com essa demanda e dediquem mais
tempo e atenção aos pacientes com dificuldade de adesão para evitar o
desenvolvimento de AIDS e doenças oportunistas nesses pacientes.
IMUNIDADE
Após a infecção inicial, o sistema
imunológico inicia uma série de reações para tentar conter a multiplicação do
vírus no corpo. Elas incluem a produção de anticorpos e o
desenvolvimento de células capazes de identificar e eliminar outras células que
foram infectadas pelo HIV, chamadas linfócitos T CD8+ citotóxicos.
Infelizmente, a resposta imunológica não é capaz de controlar o vírus na grande
maioria das pessoas que se infectam pelo vírus. O HIV passa, então, a destruir
cada vez mais as células T CD4+. Quando as células T CD4+ estão em número muito
baixo no sangue (em geral, quando ficam abaixo de 200 células por microlitro de
sangue), o paciente fica mais predisposto a desenvolver doenças que se
aproveitam de sua fragilidade imunológica, daí o nome de doenças oportunistas.
Cerca de 10% de todos os europeus carregam um polimorfismo do CCR5, um receptor de superfície
celular que participa nas infecções por HIV-1 M-trófico. Segundo Grimaldi
(2002), na população brasileira, cerca de 5,3% carregam essa mutação. O HIV-1
M-trófico usa os receptores CCR5 e CD4 para entrar nas células-alvo,
diferentemente do HIV T-trófico que usa o CXCR4 com o CD4. Pessoas com essa
mutação (uma deleção de 32 pares de bases) têm um risco muito baixo de infecção
pelo HIV-1, já que o HIV M-trófico geralmente inicia a infecção. De fato, 1% de
todos os europeus homozigotos para
o polimorfismo podem ter uma proteção adicional (apesar de incompleta).
MITOS
COMUNS A RESPEITO DO HIV
"AIDS e HIV são a mesma coisa" -
O HIV é um vírus que pode levar ao desenvolvimento da AIDS.
Que ocorre quando o sistema imune fica comprometido pela ação do vírus. Alguns
tipos de doenças oportunistas do HIV podem estar presentes em uma
pessoa que possa ser diagnosticada como tendo AIDS. Uma pessoa pode estar
infectada por anos sem ter desenvolvido a AIDS. Alguém que seja HIV positivo
pode não ter AIDS.
"O HIV afeta apenas homossexuais e usuários de
drogas" - O HIV pode afetar qualquer um. Bebês,
mulheres, idosos, adolescentes, e pessoas de qualquer etnia, classe social e
país podem contrair o HIV. Alguns religiosos disseram e ainda dizem que a AIDS
é uma punição divina aos homossexuais ou a promiscuidade, porém se isso fosse
verdade não deveriam haver contaminados pela mãe durante o nascimento, em
transplantes de órgãos, por doação de sangue ou ferimentos.
"Homossexuais, prostitutas e usuários de
drogas são os grupos de risco" - O termo grupos
de risco é evitado atualmente por razões éticas, para não estigmatizar este ou aquele grupo, e também
para que as pessoas fora do grupo de risco mantenham-se cautelosas.
Prefere-se usar o term o comportamento de risco (como não usar preservativo, manter sexo com mais de um parceiro (a),
compartilhar seringas). Apesar disso a ONU faz
referência a uma maior vulnerabilidade à infecçãopelo HIV por algumas populações como profissionais do
sexo e seus clientes, população carcerária e homens que fazem sexo com
homens.Ainda segundo a ONU, em 2008, os jovens eram
os mais vulneráveis já que representavam 45% do total de novas infecções. No
Brasil, entre os homens infectados 20,1% são homossexuais e 11,5% bissexuais,
mas a maioria dos infectados são heterossexuais. Dentre os infectados, segundo
dados do SUS de 2009, cerca de 37,5% eram mulheres.
O mesmo ocorre na maioria dos outros países.
"Não há risco para duas pessoas já infectadas
ao ter sexo sem proteção" - Há anos a
reinfecção por HIV (ou superinfecção como é às vezes
chamada) tem sido vista como a consequência de relações sexuais sem proteção
entre pessoas infectadas pelo HIV. A reinfecção ocorre quando uma pessoa com
HIV infecta-se pela segunda vez ao ter uma relação sexual sem proteção com
outra pessoa que também tem o HIV. A reinfecção tem sido demonstrada em estudos
laboratoriais, bem como em modelos animais. Por anos, as provas de que isso
poderia acontecer em situações da vida real tem sido difíceis de serem obtidas,
mas uma evidência recente tem emergido em estudos de casos humanos que
confirmou que a reinfecção pelo HIV pode ocorrer e pode ser muito problemática
para pessoas com o HIV.
"Pessoas acima dos 50 anos não contraem
HIV" - Pessoas acima dos 50 anos podem contrair
HIV. O número de pessoas acima dos 50 diagnosticadas com infecção pelo HIV está
aumentando. Em geral, pessoas mais velhas tendem a desenvolver deficiência
imunológica mais rápido que os adultos mais jovens.
"Uma mulher HIV positivo não pode dar à luz um
bebê saudável" - o HIV é às vezes transmitido da mãe para o
bebê no útero, mas nem sempre. O risco é pelo menos de 20 a 30% para a
transmissão materno-fetal do HIV. O parto por cesárea e a ingestão de medicamentos antiretrovirais durante a gravidez pode
reduzir as chances de a mãe passar a infecção para o bebê; Quando esses
tratamentos estão disponíveis e a futura mãe é diagnosticada o mais cedo
possível, apenas cerca de 2% das mães HIV-positivas que estão prestes a dar à
luz, terão filhos infectados. As infecções podem ocorrer também através do
leite materno sendo recomendado usar aleitamento artificial para evitar
que isso ocorra. No Brasil o substituto de leite materno em pó está disponível
gratuitamente em alguns hospitais da rede pública.
"Uma única pessoa identificada trouxe o HIV
para a América do Norte" - Ver
verbete Paciente Zero.
A expectativa de vida de vida de uma portador de
HIV é de alguns anos - Sem tratamento a expectativa média é de 9 a
11 anos. E caso só seja detectada quando o quadro de AIDS já está instalado e
não for feito o tratamento adequado, a expectativa é de apenas 6 a 19 meses.
Mas com o avanço dos retrovirais a expectativa aumentou para 20-50 anos. É
possível que seja maior pois o HIV só começou a ser estudado mais intensamente
por volta de 1985 e a terapia antirretroviral eficaz só chegou ao Brasil por
volta de 1996. Como vários laboratórios do mundo estão procurando novos
tratamentos é provável que a expectativa aumente cada vez mais e tenha cada vez
menos efeitos colaterais.
Picada de mosquito transmite HIV? -
Não há relatos conhecidos de infecção por mosquitos no mundo.
Beijo transmite HIV -
Existe um risco teórico, porém é quase nulo. Não há nenhum caso confirmado de
infecção pelo beijo no mundo. Mesmo em pacientes com AIDS (carga viral média
acima de 100.000) e com doenças na cavidade oral menos de 1/3 tinham vestígios
do vírus na boca. Em um paciente seguindo o tratamento retro-viral corretamente
(carga viral menor que 100) é tão improvável que em 2009 o ministério da saúde brasileiro
começou uma campanha contra esse preconceito. Existem 10 substâncias na saliva
que destroem o vírus.
Quem tem HIV pegou fazendo sexo desprotegido -
Provavelmente pela forte campanha de prevenção focalizada no uso da camisinha
muita gente pense isso. Mas não necessariamente, até 1996, nem todo sangue ou
órgão era examinado corretamente antes da transfusão. Além disso, até 2000
menos da metade das mães faziam todos os exames pré-natal indicados e tanto
complicações durante a gestação, durante o parto ou no leite podem transmitir o
HIV. Mesmo quem foi contaminado sexualmente pode ter sido vítima de estupro (a
violência do ato aumenta o risco de transmissão) ou pode ter sido contaminado
antes das campanhas de conscientização terem se popularizado nos anos 90.
Quem tem HIV é mais vulnerável a infecções
oportunistas - Com o tratamento antirretroviral (TARV) é
possível o portador ter uma vida perfeitamente saudável, sem qualquer sintomas
nem efeitos colaterais e com um sistema imunológico normal. E a quantidade do
vírus geralmente fica centenas de milhares de vezes menor que o de um paciente
com AIDS. Caso o paciente tome os remédios corretamente ele não tem nenhuma
restrição.
Depois de beber não se deve ingerir os medicamentos
antirretrovirais - O álcool faz mal por diversos outros
motivos, então é bom evitar para não desgastar o organismo e a saúde, porém ele
não interage medicamentosamente com a maioria dos tratamentos antirretrovirais.
Portanto mesmo após consumir álcool deve-se ingerir os medicamentos
normalmente! Uma exceção é a interação com o efavirenz que tem seus possíveis efeitos colaterais como
depressão, insonia e dor de cabeça potencializados pelo álcool.
Assim que a pessoa descobrir que é portador ela
deve começar o tratamento - Apenas caso os
sintomas da AIDS já tenham aparecido. Mas caso feitos antes dos sintomas podem
demorar anos antes de começar o tratamento. O tratamento só começa quando a
imunidade está seriamente comprometida. Existem alguns casos de pacientes que foram
contaminados há mais de 12 anos e ainda não precisaram tomar o antirretroviral
mas geralmente leva de 4 a 7 anos desde a infecção inicial.
CICLO DE VIDA DO HIV
O HIV entra no linfócito auxiliar
(Helper) T CD4+ ao ligar-se à molécula CXCR4 ou às moléculas CXCR4 e CCR5,
dependendo do estágio no qual a infecção pelo HIV se encontra. Uma proteína
cofator (fusina) é requerida para auxiliar na ligação do vírus à membrana da
célula T. Durante as fases iniciais de uma típica infecção pelo HIV, as duas
moléculas CCR5 e CXCR4 estão ligadas, enquanto que um estágio
mais avançado da infecção geralmente envolve mutações do HIV que apenas
ligam-se à molécula CXCR4.
Uma vez que o HIV está ligado ao linfócito T
CD4+, uma estrutura viral conhecida comoGP41 penetra na membrana celular e o RNA do HIV e várias enzimas,
incluindo (mas não limitada) à transcriptase reversa, integrase e protease são
injetadas na célula.
Uma vez que a célula T hospedeira não
processa o RNA em proteínas, o próximo passo é gerar um DNA a partir do RNA do
HIV usando a enzima transcritase reversa para que ocorra a transcripção
reversa. Se bem sucedida, o DNA pró-viral deve ser então integrado ao DNA da
célula hospedeira usando a enzima integrase. Se o DNA pró-viral é integrado ao
DNA da célula hospedeira, a célula torna-se altamente infectada, mas não produzindo
ativamente proteínas do HIV. Esse é o estágio latente do
HIV, uma infecção durante a qual a célula infectada pode ser uma "bomba
não explodida" potencialmente por um longo tempo.
O vírus pode ficar escondido na médula óssea,
onde fica protegido do efeito de medicamentos e dormente, conforme estudo
publicado na revista Nature Medicine. Descobrir onde o vírus
latente se esconde é o primeiro passo para eliminá-lo.
FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADrus_da_imunodefici%C3%AAncia_humana
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