O vírus
do papiloma humano (VPH ou HPV,
do inglês human papiloma virus)
é um vírusque
infecta os queratinócitos da pele ou mucosas,
e possui mais de 200 variações diferentes. A maioria dos subtipos está
associada a lesões benignas, tais como verrugas,
mas certos tipos são freqüentemente encontrados em determinadas neoplasias como o cancro do colo do útero, do
qual se estima que sejam responsáveis por mais de 90% de todos os casos
verificados.
A
principal forma de transmissão do HPV é por via sexual, sendo a doença sexualmente
transmissível (DST)
mais freqüente. Estima-se que 25 a 50% da população feminina mundial esteja infectadas, e que 75% das mulheres contraiam a infecção
durante algum período das suas vidas. A maioria das situações não apresenta sintomas
clínicos, mas algumas desenvolverão alterações que podem evoluir
para cancro. O exame de rastreio para diagnóstico destas alterações é a
citologia cervical ou Papanicolau. A infecção também pode ocorrer no homem e, embora
as manifestações clínicas sejam menos freqüentes do que na mulher, estima-se
que 50% da população masculina esteja infectada pelo virus.
O tratamento é demorado e depende das
técnicas aplicadas. Apesar de em vários casos haver recaída, é comum em outros casos, principalmente se diagnosticado
a tempo, a cura e a eliminação do vírus do organismo. As estratégias de prevenção são
similares às das restantes DSTs, passando,
sobretudo por evitar comportamentos de risco. Existe no mercado mais de um tipo
de vacina contra o HPV,
que previnem a infecção por alguns dos subtipos mais freqüentes de HPV,
encontrando-se em discussão a sua inclusão nos planos nacionais de vacinação de
diversos países.
As
opções de tratamento dependem do tipo e extensão das lesões causadas pelo HPV, podendo ser
empregue um tratamento destrutivo ou excisional (destruição e/ou remoção das
lesões), ou um tratamento à base de medicamentos imunomoduladores
como interferão eimiquimod.
SINAIS E SINTOMAS
O tipo e gravidade dos
sintomas dependem do "tipo" de vírus do HPV, e do local de infecção.
A principal destrinça feita entre as variantes do vírus distribui-os por duas
categorias: os que infectam as superfícies cutâneas em geral, e os que infectam
a região genital. Seja qual for a região afetada, na maior parte dos casos a infecção
é assintomática e resolve-se espontaneamente sem deixar seqüelas. Alguns tipos
de vírus, contudo, e em especial os que afetam a área genital, podem causar
alterações que vão desde lesões benignas a câncer.
VERRUGAS
A manifestação mais característica e freqüente da
infecção por HPV é a formação de verrugas, que são lesões hiperproliferativas
benignas também designadas por papilomas, de onde deriva o nome do vírus. Contudo, diferentes
subtipos de HPV são responsáveis por infecção preferencial em diferentes zonas,
sendo capazes de causar diversas patologias.
Verrugas: São causadas por subtipos
cutâneos como o HPV-1 e HPV-2, e podem ocorrer em locais como as mãos,
os pés e a face, entre outros. A forma de transmissão do
vírus inclui o contacto casual com zonas infectadas, podendo ocorrer
auto-inoculação para novas áreas. Este tipo de manifestação está geralmente
associada a indivíduos mais jovens, e não aparenta estar relacionada com um
aumento do risco de cancro
Condiloma acuminado: Mais
de 30 variantes de HPV infectam a região genital, embora os tipos
6 e 11 sejam os principais responsáveis por cerca de 90% dos casos,
podendo causar verrugas navulva, pénis e ânus. Estes condilomas verificam-se
sobretudo em populações adultas e sexualmente activas, sendo mais frequente nas mulheres (dois
terços dos casos).
Papilomatose respiratória:
Esta manifestação rara decorre com a formação de verrugas ao longo das vias
respiratórias, podendo causar obstrução à passagem do ar e obrigando a intervenções cirúrgicas recorrentes para a sua excisão.
CANCRO
É a conseqüência mais grave da infecção por
HPV, e vários tipos, de entre os quais o 16,
18, 31 e 45, são considerados de risco elevado para o desenvolvimento de
cancro. Os tipos de cancro que estão em alguma medida associados com o HPV
incluem cancro do colo uterino, do ânus, da vulva, do pénis e da cabeça e
pescoço. Destes, o mais importante (no sentido em que foi aquele em que se
encontrou uma maior taxa de correlação com a infecção) é o cancro do colo do útero,
considerando-se que 95% dos casos, ou até mais, são devidos ao HPV.
A
transformação em células malignas é um processo lento, e ocorre em pessoas que
têm uma infecção persistente durante muitos anos. Contudo, esta infecção pode
não estar associada a manifestações como condilomas, o que
justifica a realização de testes de rastreio regulares.
RASTREIO E DIAGNÓSTICO
O diagnóstico pode ser feito através da
história clínica, exame físico e exames complementares. O rastreio da sequela
mais importante (o cancro do colo do útero) é feito por rotina através do Papanicolau, que embora não detecte a presença do vírus,
permite reconhecer as alterações que ele causa nas células.
A biopsia é utilizada para a observação e
caracterização das alterações celulares através da análise microscópica de uma
amostra, embora apenas seja efectuada em situações concretas, como em pacientes
imunodeprimidos, quando há dúvida no diagnóstico, ou caso haja suspeita de
evolução para neoplasia.
A colposcopia e peniscopia são técnicas que permitem a pesquisa
de condilomas de reduzidas dimensões nas mucosas, que constituem um sinal claro
da infecção por HPV.
Mais
recentemente, foram desenvolvidas técnicas de biologia molecular (hibridização, PCR,
captura híbrida) que permitem a detecção de DNA vírico em fragmentos de biopsia ou
escovado cervical, e possuem elevada especificidade e sensibilidade. Estas
técnicas são as únicas formas de diagnosticar inequivocamente o HPV, embora em
termos clínicos seja de maior valia a caracterização do nível de alterações
morfológicas, visto que a presença de HPV sem alterações citológicas não é
motivo de alarme visto muitas das infecções serem transitórias e de resolução
espontânea.
FISIOPATOLOGIA
Os mecanismos patológicos da HPV estão melhor
caracterizados nas espécies com elevado risco de induzir cancro do colo do
útero.
De uma forma geral, o HPV possui no seu genoma
vários genes que são expressos numa fase inicial (“early genes”). Alguns
destes, concretamente os genes E6 e E7, foram classificados como oncogenes pela sua capacidade de induzir a transformação
maligna das células infectadas. O E6 e E7 codificam
oncoproteínas que têm como alvo as proteínas Rbe p53 respectivamente,
que são proteínas codificadas por genes supressores tumorais.
O Rb (gene do retinoblastoma) impede a célula de prosseguir a divisão celular, ao bloquear ofactor de transcrição E2F.
A p53 tem o mesmo efeito ao aumentar a expressão de p21, além de também
desencadear a apoptose em casos de dano extenso ao ADN.
Basicamente, os genes E6 e E7 induzem a divisão celular e evitam a apoptose.
E1 e E2: têm a função de controlar a replicação e a
transcrição do DNA.
E4: Alteração da matriz intracelular
E5: Estímulo para proliferação
E6 e E7: Transformação celular
Pensa-se que o HPV infecta células da camada basal
do epitélio estratificado, inserindo o seu ADN no núcleo de forma
a ser copiado durante a replicação celular; nesta fase são expressos os “early
genes”. Quando uma das células migra para longe da membrana basal, atinge um maior estado de diferenciação, que poderá
constituir o sinal para a expressão dos “late genes”, codificando as proteínas
L1 e L2 responsáveis pela síntese da cápside para criação de novos vírus.
A prevenção da apoptose e indução da divisão celular são os principais
mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento de neoplasias. A evolução da infecção por HPV no colo uterino (e
mais raramente no pénis, cabeça e pescoço ou outros locais) cursa com uma
alteração crescente da morfologia celular (displasia) do epitélio, com
posterior invasão local de tecidos adjacentes, e metastização à distância.
A prevenção da infecção por HPV pode ocorrer a dois
níveis distintos, para prevenção das estirpes cutâneas, e das estirpes
genitais.
ESTIRPES CUTÂNEAS
Devido à cápside proteica, o HPV pode resistir durante períodos
prolongados em várias superfícies. Alguns cuidados que podem evitar a infecção
incluem:
Proteger os pés com calçado apropriado em
balneários públicos
Evitar o contacto com a superfície de sanitários de
uso público, e outras superfícies com nível de higienização duvidoso
Tratar as verrugas, para
evitar que o vírus seja transportado acidentalmente para zonas de pele sadia e
cause um novo foco (auto-inoculação)
ESTIRPES GENITAIS
A principal via de contágio das variantes genitais
do HPV é através de contacto sexual, factor importante na prevenção.
Evitar comportamentos sexuais de risco —
Nomeadamente através do uso de preservativo com parceiros ocasionais, com a vantagem
acrescida de proteger contra outras DSTs.
De acordo com alguns autores, a aplicação de microbicidas tópicos antes da
relação sexual também parece prevenir a infecção por HPV.
Evitar o contacto com a superfície de sanitários de
uso público, e outras superfícies com nível de higienização duvidoso.
Vacina contra o HPV —
Encontra-se disponível em vários mercados vacinas (Gardasil, Cervarix) contra
algumas estirpes de HPV implicadas na génese do cancro do colo do útero e dos
condilomas acuminados, que são capazes de evitar a infecção. É de notar,
contudo, que não são eficazes caso a doença tenha sido adquirida antes da
administração da vacina, e que apenas protegem contra a infecção por
determinadas estirpes e não de todas, pelo que a realização de rastreios regulares
continua a ser indispensável. Indivíduos infectados com um tipo de HPV podem
ainda beneficiar do efeito protector da vacina contra a infecção pelos outros
subtipos que esta cobre.
Papanicolau — O exame citológico de
rotina é a maneira mais eficaz de detectar as alterações celulares causadas
pelo HPV, permitindo assim a intervenção antes da evolução para cancro.
TRATAMENTO
É em regra muito difícil erradicar por completo a
infecção, pelo que na maioria dos casos o tratamento visa reduzir ou eliminar
as lesões causadas pelo HPV. Como a infecção subjacente às lesões mantém-se, é
frequente a ocorrência de recidivas, devendo manter-se o
acompanhamento médico.
A maioria dos métodos tem bons resultados, não
havendo ainda dados que apontem para um procedimento preferencial, nem
informação sobre a eficácia comparativa entre tratamentos combinados e
monoterapia, pelo que a abordagem terapêutica é deixada ao critério do médico e
do paciente.
Agentes tópicos — Aplicados sobre a lesão,
promovem a dissolução da queratina e/ou morte das células que
constituem a lesão. Ex: podofilina, 5-fluorouracil, ácido tricloroacético.
Imunomoduladores — Substâncias que estimulam o
sistema imunitário no combate à infecção. Ex: imiquimod, retinóides,interferão.
Procedimentos cirúrgicos — Remoção das lesões
através de diversos processos, como, por exemplo, excisão com bisturi, cirurgia
de alta frequência, laserterapia e crioterapia.
PROGNÓSTICO
As lesões cutâneas (verrugas) não são em
geral preocupantes do ponto de vista do quadro clínico. A principal complicação
está relacionada com a evolução para cancro das lesões causadas por alguns
tipos de HPV, em especial no colo do útero. As lesões observáveis por citologia
ou biopsia são categorizadas em três estádios, que vão desde CIN-I (displasia
ligeira) a CIN-III (carcinoma ‘’in situ’’), que tem elevada probabilidade de
evoluir para cancro cervical invasivo. Uma maior extensão da displasia acarreta
um pior prognóstico, pelo que quanto mais cedo é feito o diagnóstico, melhores
são as hipóteses de que as lesões sejam controladas com tratamento. É muito
improvável que após diagnóstico e início de tratamento a displasia evolua para
cancro.
Em
doentes imunocomprometidos, o risco de evolução para cancro encontra-se
elevado, devido à menor capacidade de resposta contra o agente agressor, assim
como à diminuição da capacidade de detectar e destruir as células infectadas.
O
resultado de um Papanicolau pode por vezes indicar a presença de células
atípicas (ASCUS, do inglês atypical
cells of undertemined significance). Como o nome indica estas células
atípicas não têm um significado claro, mas são uma indicação para aumentar
preventivamente o nível de vigilância.
PASSADO E FUTURO
Os condilomas acuminados,
manifestação típica de uma infecção genital por HPV, são conhecidos desde a
antiguidade e desde então reconhecidos como uma doença venérea. O termo deriva da junção
do termo Latim "condyloma" ou Grego "kondyloma",
que significa tumor duro, e do termo Latim "acuminare", cujo
significado é tornar pontiagudo ou aguçar.
No
início do século XX, realizaram-se estudos com filtrado acelular obtido
de verrugas genitais, que se provou causarem o aparecimento de verrugas na
pele, e indicou a etiologia viral da infecção.
Foi no
final da década de 1960, com o advento da microscopia electrónica, que se
detectaram e caracterizaram as partículas virais em amostras de verrugas
genitais. No início dos anos 1970, estudos epidemiológicos evidenciaram que a
transmissão do HPV ocorria por contacto sexual.
Na
segunda metade dos anos 1970, foi constatado que as alterações induzidas pelo
HPV poderiam levar à malignização e ao cancro, tendo desde então inúmeros
estudos comprovado a elevadíssima relação entre infecção por HPV e cancro do
colo do útero e no final dos anos 1990 descrevia-se a presença viral em
aproximadamente 100% dos casos de câncer cervical. Por esse motivo passou-se a
afirmar que não existe câncer do colo sem HPV. Desde então, uma grande variedade de
estirpes foi identificada por análise de ADN (mais de 200), encontrando-se
agora bem caracterizadas mais de 85, de entre as quais as que causam a quase
totalidade do carcinoma cervical. A partir da segunda metade dos anos 1990 o
vírus HPV passou também a ser associado a alguns casos de câncer peniano. Embora ainda seja um assunto controverso pois
admita-se outras hipóteses causais (p.ex. fimose),
estudos utilizando PCRdescrevem
a presença de HPV no carcinoma peniano variando de 30 a 100% dos casos. Estudos recentes também tentam
estabelecer uma correlação importante entre cânceres de orofaringe e o
HPV. Tais estudos tentam explicar o aumento desses tipos de câncer através do
aumento da prática do sexo oral ao
longo das últimas décadas. Entre os anos de 2006 a 2007 o HPV pôde ser
encontrado em 93% dos tumores localizados na boca e na faringe.
Em 2006 completou-se o desenvolvimento de
duas vacinas contra alguns subtipos de HPV, que utilizam a proteína L1 da
cápside. Estas vacinas, agora disponíveis no mercado, permitirão (segundo as
expectativas) diminuir em mais de 70% o
número total de cancros do colo do útero no prazo de cerca de 20 anos, caso as
nova gerações de mulheres sejam vacinadas (uma vez que elas apenas são activas antes da infecção se instalar).
De
futuro, é possível que as vacinas sejam mais abrangentes no espectro de HPV que
cobrem, aumentando ainda mais os seus benefícios.
FONTE:
http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADrus_do_papiloma_humano
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